segunda-feira, 22 de março de 2010

DESCONSTRUÇÕES



Quando conhecemos uma pessoa,
construímos uma imagem.
A imagem tem a ver com as nossas expectativas
e mais ainda com o que ela "vende" de si mesma.
É pelo resultado disto tudo que nos apaixonamos.
Se a pessoa for parecida
com a imagem que projectou em nós,
desfazermo-nos dela, mais tarde, não será tão penoso.
Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa,
mas nada que resista por muito tempo.
No fim, vão sobreviver as boas memórias.
Mas se uma pessoa "inventa" uma personagem
e nos acreditamos,
o processo é mais lento:
a desconstrução daquilo que nos achamos que era real.
Desconstruimos A, desconstruimos B,
desconstruimos C.
Milhares de pessoas vivem os seus dias
aparentemente bem, na boa
mas por dentro estão "desconstruindo ilusões".
Tudo porque se apaixonaram por uma fraude,
não por alguém autêntico.
Ok, é natural que, numa primeira aproximação,
As pessoas "vendam" mais as qualidades que os defeitos.
Ninguém vai começar um relacionamento a dizer:
muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco.
Nada disso, é a hora de fazer charme.
Uma vez o romance engatado,
aí as defesas são postas de lado
e nos mostramos quem realmente somos,
nossas gracinhas, manias e imperfeições.
Isto se formos honestos.
Os desonestos são aqueles que fabricam ideias e atitudes,
até que um dia cansam-se da brincadeira,
deixam cair a máscara
e o outro fica ali, sem entender absolutamente nada.
Quem se apaixonou por uma mentira,
tem que desconstruí-la para se "desapaixonar".
É um sufoco.
Exige que nos reconheçamos que fomos seduzidos
por uma fantasia,
que nos somos capazes de nos deixarmos confundir,
que o nosso desejo é mais forte do que a nossa astúcia.
Significa encararmos que alguém
por quem nos dedicamos um sentimento bonito
não chegou a existir,
que tudo não passou de uma representação.
Talvez até não tenha sido por mal,
pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma,
por isso ela se inventa.
Sorte quando nos sabemos com quem estamos a lidar:
mesmo que venhamos a desamá-lo um dia,
tudo o que foi construído se manterá de pé.
Afinal, todos, resistimos muito
a aceitar que alguém que gostamos
não é, e nem nunca foi, Especial.

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